terça-feira, novembro 23, 2004

Desencontros

Já reparei que são os desamores que empurram o ser humano a criar. Foi o desencontro que iluminou Luís de Camões no seu “amor é fogo que arde sem ser ver, é ferida que dói, e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”.
Foi a angústia do amor proibido que inspirou Florbela Espanca em Perdidamente “E é amar-te, assim, perdidamente...É seres alma, e sangue, e vida em mim. E dizê-lo cantando a toda a gente!”.
E tantos outros autores que sabemos como infelizes, como incompletos, como desencontrados da vida.
Crescemos, seguimos, andamos quando nos sentimos infelizes. O torpor da felicidade e do contentamento tolda-nos a criatividade, ameaça a nossa lucidez crua, inspira-nos sentires mais equilibrados ou simplesmente tira-nos o tempo que poderia ser dedicado à superação humana.
Mesmo assim considero que todos, todos trocariam de bom grado a genialidade angustiante pelos momentos felizes que já invejaram nos outros.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Simplesmente, lindo...
ADOREI!

4:27 da tarde  

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