quarta-feira, julho 20, 2005

Culpa

Se há situação que me irrita é a desresponsabilização que grassa na nossa sociedade. Ninguém é responsabilizado, ninguém é culpável pelas consequências e efeitos das suas acções. Todos se preocupam em atribuir aos outros delitos e faltas. Todos têm justificações, mas o Mea Culpa há muito que deixou de ter lugar nas vidas de quase todos…
Eu fui educada a assumir os meus actos, a perceber que se as opções forem as correctas o mérito é meu, mas se, por algum motivo algo correr mal, essa responsabilidade também é minha, e se for, há que reconhecê-lo e tentar melhorar.
Hoje em dia todos se apressam, de forma quase generalizada, a atribuir faltas, a sacudir atenções, a apontar o dedo, a encontrar explicações ou desagravos.
Esta falta de coragem ética, de profissionalismo, de carácter até, esta ausência de civilidade fragiliza o ser humano, retira-lhe génio, força e integridade.

Acho que parte desta conjuntura se deve ao peso do significado da palavra culpa. Culpa. Uma palavra curta, forte, profunda, redonda, escura. A velha e tradicional educação judaico-cristã fecha na palavra e no conceito de Culpa o peso de séculos de obscuridade, de transgressão, de pena, de sofrimento, de pecado …. Pois, é tempo de arejar esta concepção, de a suavizar, de recuperar a palavra sem o seu incómodo religioso, mas sem a leviandade de a considerar noção non grata.

A valorização das liberdades e direitos individuais que se generalizaram nos dourados anos 60 e 70, condenaram para sempre a palavra Culpa aos calabouços dos tabus e dos significados proibidos. Com o flower power os pedopsicólogos de todo o mundo incutiram nos pais e educadores o medo de traumatizar meninos e meninas, se lhes fosse exigida alguma responsabilidade. [E lançando mão de uma hipérbole :)] Daí a limpar da face terrestre a Culpa foi um passo… até porque ninguém no seu perfeito juízo quer ter o ónus de permitir que as criancinhas do século XX e XXI cresçam com desequilíbrios, se por algum acto de loucura, algum progenitor lhe tentar incutir o sentido da responsabilidade ou a percepção do binómio acção/consequência….
É urgente renovar contextos e semióticas, a Idade Média acabou…

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Acho que esta POSTA foi das coisas mais acertadas que tenho lido ultimamente. Não te limitas a tocar na ferida, mas carregas e revolves os dedos nela (isso deve doer... muito ;) ) para tirares toda a crosta e putrefacção , até encontrares um pouco de carne sã. Pena é, que quase toda a carne esteja já contaminada com a moléstia da Desculpabilização / Desresponsabilização. Bastando para tal olharmos “cima a baixo” na nossa sociedade, para verificarmos os casos práticos do que referes, desgraçado de quem está algures cá por baixo.
Creio que só faltou uma coisa… A atribuição dos louros / méritos em que é, inversamente proporcional à atribuição da culpa, da mesma maneira que imputas as culpas, premeias com a retirada dos méritos.
Té e continua assim
beijo

12:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Só me esqueci de perguntar uma coisa...
Mas afinal de que planeta és tu?
Beijos ;)

12:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ora que pergunta. Claro que sou de MARTE!!! ;)

12:33 da tarde  
Blogger João Pedro "jota" Martins said...

Este comentário foi removido pelo autor.

7:40 da tarde  
Blogger SA said...

Já não vinha aqui há algum tempo. Fico espantada quando vejo este título. Reparo na data e vou ver ao meu. Escreveste um dia antes.
Só hoje li o teu...
Que sintonia, hein?

11:23 da tarde  

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