escrever #1
O acto de escrever é em si um acto de solidão. A solo. Em solilóquio as ideias flúem entre o que penso e o papel, entre o que sinto e os meus dedos. Depois sem planos prévios ou sem intenções programadas nascem textos, matéria física com identidade própria que pode ser palpada por outros que já não eu. Um corpo que se estende além de mim, mas que ainda assim sou eu.
Do acto de escrever nasce a partilha. Dou-me em fragmentos desordenados, umas vezes assumidamente biográficos, noutras a fingir que brinco ao faz de conta.
Uma entrega nem sempre entendida, mas sempre comprometida com a verdade ou se calhar nem sempre… Talvez às vezes me vista de personagens que imagino como reais, talvez conte histórias que um dia pensei em pessoas que existem, talvez invente episódios reais adequados a quem não conheço…. Talvez…
Escrever #2
Escrever impõe um ritual, passos seguros de uma cerimónia interna que nasce do culto das letras. E escrevo aqui, a sós, agora, sob a luz do sol, no sítio de sempre, rodeada do que é meu.
Escrever #3
Gostar de escrever. Carregar para todo o lado o caderno de capa preta. Escrever o que sinto. Não dizer. Abrir o caderno e escrever.
Esconder na mala os lápis de todas as cores ao lado das folhas brancas. Querer escrever um livro inteiro, um livro infantil, inventar as ilustrações com cores vivas e quentes.
Escrever e contar. Juntar toda a gente e começar a história, um, dois, três, ERA UMA VEZ … uma aventura que começa quando já corre veloz a mão pela história. A crescer, a crescer, onde crescem os contos de hoje.
E no FIM a história é grande, tão grande que não cabe numa noite cheia de estrelas, que não cabe no tempo de embalar, que não cabe numa infância inteira e chega até à idade adulta. Meninos grandes tão grandes maiores que gente crescida.
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