segunda-feira, julho 26, 2004

Rádio
Ouço rádio uma boa parte do dia. Como agora. Telefonia Sem Fios em 105.5 Fm. Não tenho o hábito de colocar as MINHAS MÚSICAS, não sei bem porquê. Aconteceu.
De repente, fiquei com saudades. Saudades de fazer rádio. No início assustava-me ficar sozinha no estúdio, falar e não ter feed-back, não ter um olhar, um gesto do outro lado.... Saudades das cumplicidades que se criam… do lado de lá do microfone, do lado de cá da rádio. Há magia na rádio.
Tenho saudades de brincar no quintal ao som da rádio que inundava a casa.... a acompanhar-me enquanto saltava ao elástico. Tenho saudades da adolescência do Oceano Pacífico e até da infância dos intermináveis Parodiantes de Lisboa.
Tenho saudades do Postigo da TSF. Tantas e tantas noites de insónia foram passadas a conhecer as noites de outros que, tal como eu, deviam tempo ao João Pestana em troca das palavras do Fernando Alves e do prof. Carlos Amaral Dias  Um programa marcou-me particularmente, alguém que não saia de casa há anos - por causa de uma fobia que se instalou nele -  recebeu em casa a rádio. Continuou sem sair, mas por breves minutos teve o mundo lá dentro.
Tenho saudades das manhãs agitadas da TSF ao som do incontornável Fernando Alves. Não é jornalista, é poeta, conhece as palavras como ninguém, na sua voz, ao seu ritmo, os sons ganham novos significados, encaixam na perfeição em contextos inesperados. Tenho saudades do Freud e Maquiavel, dois príncipes que me criaram a deliciosa rotina de um amanhecer preguiçoso, um acordar mais lento aos domingos preparando o Flash Back.
Aquela TSF acabou. A SIC Notícias herdou a Quadratura do Circulo. Mas os convidados perderam o mistério, já não estão em mangas de camisa, já não agitam os braços, já não abrem os olhos de espanto. Apresentam-se maquilhados, cuidados, quietos, a tirania da imagem apanhou-os.
Há magia na Rádio.Tenho Saudades de FAZER Rádio.