twilight zone...
Curiosamente o comboio hoje vem quase vazio, as janelas abertas deixam o ar circular, consegui sentar-me calmamente. Arrumei com cuidado a pasta preta, enorme, com as plantas da casa do Eduardo. Logo vamos ter uma reunião, a última, antes do projecto arrancar no terreno. A casa do Pinhal com as suas janelas rasgadas a poente vai ser convidativa a trabalhos e criações. O Eduardo está satisfeito, sei-o bem, já se imagina a pintar os seus quadros no atelier envidraçado, com vista para a piscina. Aliás, esta cumplicidade entre nós começou ainda no liceu, quando partilhávamos segredos, conquistas e equipas de futebol. Depois seguimos rumos diferentes. Mas as nossas vidas encontraram-se muitas vezes. Sinto-me tio da Mariana e do Afonso, quase pai, brinco sempre que se tivesses filhos eram estes os nomes que escolheria. Sinto-me quase irmão da Maria. A doce Maria que conquistou para sempre o coração do Eduardo.
Concentro-me no livro, tenho ainda meia hora de viagem. Estou a ler o Código Da Vinci. Por diversão, por entretenimento. A leitura descontrai-me, é de resto um dos meus maiores vícios. O Eduardo não se cansa de me avisar:
- Quando encontrares a mulher da tua vida, Bruno, quando os filhos saltarem para o teu colo, quando o sol e os passeios em família chamarem por ti, bem, aí deixarás de ter tanta disponibilidade para os livros….
Eu sorrio, concordo e mergulho nos livros outra vez.
O comboio continua o seu percurso, mas de repente ficamos às escuras. Que estranho, não me lembro de nenhum túnel nesta zona, até porque se houvesse um túnel o comboio estaria iluminado. Os segundos passam e continuamos na escuridão total. Não noto qualquer agitação entre os outros passageiros, o silêncio enche a carruagem.
Finalmente saímos do túnel. Estranho! Não me lembro mesmo deste túnel… Mas volto calmamente à minha leitura. No entanto, antes, olho de relance para os miúdos, estão bem. A Mariana brinca com a boneca de trapos de tranças amarelas e o Afonso dorme sossegado. Sorrio e concentro-me no livro. Faltam poucos minutos para chegarmos.
O comboio pára, marco a página, fecho o Código Da Vinci, pego na cadeirinha do Afonso, agarro a Mariana pela mão e saímos. Antes de chegarmos ao carro ouço a Mariana perguntar:
- Mãe de quem é essa pasta preta?
Só nessa altura vejo uma pasta preta, grande com plantas e esboços lá dentro. Não faço ideia porque carrego esta pasta como se fosse minha…. Devo ter ficado com ela no comboio. Mas estávamos sozinhos…
Curiosamente o comboio hoje vem quase vazio, as janelas abertas deixam o ar circular, consegui sentar-me calmamente. Arrumei com cuidado a pasta preta, enorme, com as plantas da casa do Eduardo. Logo vamos ter uma reunião, a última, antes do projecto arrancar no terreno. A casa do Pinhal com as suas janelas rasgadas a poente vai ser convidativa a trabalhos e criações. O Eduardo está satisfeito, sei-o bem, já se imagina a pintar os seus quadros no atelier envidraçado, com vista para a piscina. Aliás, esta cumplicidade entre nós começou ainda no liceu, quando partilhávamos segredos, conquistas e equipas de futebol. Depois seguimos rumos diferentes. Mas as nossas vidas encontraram-se muitas vezes. Sinto-me tio da Mariana e do Afonso, quase pai, brinco sempre que se tivesses filhos eram estes os nomes que escolheria. Sinto-me quase irmão da Maria. A doce Maria que conquistou para sempre o coração do Eduardo.
Concentro-me no livro, tenho ainda meia hora de viagem. Estou a ler o Código Da Vinci. Por diversão, por entretenimento. A leitura descontrai-me, é de resto um dos meus maiores vícios. O Eduardo não se cansa de me avisar:
- Quando encontrares a mulher da tua vida, Bruno, quando os filhos saltarem para o teu colo, quando o sol e os passeios em família chamarem por ti, bem, aí deixarás de ter tanta disponibilidade para os livros….
Eu sorrio, concordo e mergulho nos livros outra vez.
O comboio continua o seu percurso, mas de repente ficamos às escuras. Que estranho, não me lembro de nenhum túnel nesta zona, até porque se houvesse um túnel o comboio estaria iluminado. Os segundos passam e continuamos na escuridão total. Não noto qualquer agitação entre os outros passageiros, o silêncio enche a carruagem.
Finalmente saímos do túnel. Estranho! Não me lembro mesmo deste túnel… Mas volto calmamente à minha leitura. No entanto, antes, olho de relance para os miúdos, estão bem. A Mariana brinca com a boneca de trapos de tranças amarelas e o Afonso dorme sossegado. Sorrio e concentro-me no livro. Faltam poucos minutos para chegarmos.
O comboio pára, marco a página, fecho o Código Da Vinci, pego na cadeirinha do Afonso, agarro a Mariana pela mão e saímos. Antes de chegarmos ao carro ouço a Mariana perguntar:
- Mãe de quem é essa pasta preta?
Só nessa altura vejo uma pasta preta, grande com plantas e esboços lá dentro. Não faço ideia porque carrego esta pasta como se fosse minha…. Devo ter ficado com ela no comboio. Mas estávamos sozinhos…
2 Comments:
Ora aí está uma das minhas séries favoritas. Mas a antiga, a preto e branco, sem grandes recursos tecnológicos mas com um ENCANTO especial.
Este pequeno conto é definitivamente a preto e branco.
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