Entrei na sala de cinema em busca de imagens de África. Queria avivar memórias que nunca tive, sentir cheiros que já imaginei tantas vezes. Cheiro a terra quente, escura, suja e disputada. Ansiei pelo pôr do sol de fogo....
Sentei-me a ouvir todos os sons e a ver todas as imagens, sempre alerta, com muito cuidado, para não perder nada.
O decorrer do filme deixou-me desconcertada.
As imagens eram sempre de uma África desfocada, pouco revelada, apresentada nas entrelinhas, entendida nas palavras dos que segui ao longo da narrativa.
O filme recria o livro a Costa dos Murmúrios de Lídia Jorge e persegue a vida de quatro personagens, mas valoriza o olhar no feminino. O mundo das mulheres e das crianças, através de Evita, de Helena, das mulheres que vivem no hotel da cidade, das criadas, das prostitutas, quase todas com a vida em suspenso à espera dos homens que partiram para operações no mato. Conheci assim, um Moçambique paralelo à guerra ou, se calhar, uma guerra vista pelas mulheres. Percebi ao longo do filme a busca de uma verdade de África.
Fiquei sobretudo impressionada por se tratar de um filme que retrata genuinamente a profundidade do universo feminino.
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