terça-feira, dezembro 20, 2005

a força das palavras cantadas

Por tantas guerras passei que hoje em dia já poderia dizer que tudo me parece normal. Mais longe que isso, não sinto nada que me possa tocar fundo, fica tudo à flor da pele. à flor da pele o frio e o calor. à flor da pele as minhas mãos, quando as deixo repousar na água, antes de me lavar a cara. Fecho os olhos e sinto uma onda que me leva. Já é tarde.

Já não sei fazer as pazes, nem contigo nem comigo, os meus dias sempre nesta inquietação de ter tudo o que fazer e, nisto tudo, haver sempre qualquer coisa que não dá bem para perceber, que me escapa, que me foge. é assim que eu sinto, um balão que se esvazia e, por não ter mais onde ir, lutar contra si próprio, sempre a querer deitar mais ar para fora. Para fora, o que tenho e o que não tenho.

José Mário Branco