chego
A rádio está ligada. Entro e oiço uma voz conhecida, uma voz de hábitos conquistados na minha vida de anos. Entro e estás na cozinha. Penso em vinte e cinco formas de te surpreender, de te fazer rir, de te dizer boa noite, de te abraçar, de me dizer ali.
Entro mas não faço nada.
Entro e fico a vaguear pelas escadas, espreito pela janela. Sento-me em todas as cadeiras. Sinto o silêncio. Deixo-me invadir pelo frio que enche a casa. Estás na cozinha.
Esqueço-me de mim primeiro, esqueço-me de ti depois. A música, a música outra vez, ainda a rádio e já estou mais perto.
Deito-me na cama. Cheiro-te na almofada morna. Pego no livro, turning the page, avanço, sorrio e tenho a certeza. Leio e ando de lá para cá à janela. Sempre descalça. Leio alto e tento rivalizar com a rádio, a rádio, a música, a voz.
Tenho os pés frios, os cabelos molhados, vesti as tuas calças cinzentas, a chuvada da tarde molhou-me as calças justas. Agora já não estou bonita, mas danço. Livre. A voz da rádio acompanha-me e leio alto, tão alto. Turning the page. Ensaio ao espelho, a dança, o olhar, a sedução, o momento, a tentação e já está. Queria sair para jantar. Queria correr de mãos dadas. Queria olhar a ponte iluminada. Queria o início, o sempre.
Olho os meus pés nus, sinto as mãos pequenas dentro dos bolsos felpudos das tuas calças cinzentas. Depois já estão no livro. No livro que leio só para ti, à janela, muito depressa. Corro para a rua, deixo as portas abertas, podes querer vir atrás de mim.
E hoje poderia ter sido um dia de sol. Muito claro, brilhante, quente. Poderia ter sido um dia na praia, a areia branca, ao longe o mar sereno, na esplanada as conversas de engate, na espuma das ondas o nadador-salvador.
E depois estou na rua e olho para as caixas de correio dos outros e penso… There are no little secrets. Enfio em cada caixa uma palavra. Todas juntas são a minha história. Agora sou mais leve. As lágrimas fogem-me e vão cair na cozinha, onde tu estás, de costas para a porta, a cozinhar para mim, sossegado, à espera.
O telefone toca.
- Sou eu. Olha para o telefone. Atende. Atende.
Repito.
- Atende.
Estou na rua, descalça, com as tuas calças cinzentas, a olhar para as caixas de correio. Telefono-te.
- Estou a chegar.
A rádio está ligada. Entro e estás na cozinha. Sento-me, molhada, descalça, leve, com as tuas calças velhas. Chego e contas-me o teu dia.
A rádio está ligada. Entro e oiço uma voz conhecida, uma voz de hábitos conquistados na minha vida de anos. Entro e estás na cozinha. Penso em vinte e cinco formas de te surpreender, de te fazer rir, de te dizer boa noite, de te abraçar, de me dizer ali.
Entro mas não faço nada.
Entro e fico a vaguear pelas escadas, espreito pela janela. Sento-me em todas as cadeiras. Sinto o silêncio. Deixo-me invadir pelo frio que enche a casa. Estás na cozinha.
Esqueço-me de mim primeiro, esqueço-me de ti depois. A música, a música outra vez, ainda a rádio e já estou mais perto.
Deito-me na cama. Cheiro-te na almofada morna. Pego no livro, turning the page, avanço, sorrio e tenho a certeza. Leio e ando de lá para cá à janela. Sempre descalça. Leio alto e tento rivalizar com a rádio, a rádio, a música, a voz.
Tenho os pés frios, os cabelos molhados, vesti as tuas calças cinzentas, a chuvada da tarde molhou-me as calças justas. Agora já não estou bonita, mas danço. Livre. A voz da rádio acompanha-me e leio alto, tão alto. Turning the page. Ensaio ao espelho, a dança, o olhar, a sedução, o momento, a tentação e já está. Queria sair para jantar. Queria correr de mãos dadas. Queria olhar a ponte iluminada. Queria o início, o sempre.
Olho os meus pés nus, sinto as mãos pequenas dentro dos bolsos felpudos das tuas calças cinzentas. Depois já estão no livro. No livro que leio só para ti, à janela, muito depressa. Corro para a rua, deixo as portas abertas, podes querer vir atrás de mim.
E hoje poderia ter sido um dia de sol. Muito claro, brilhante, quente. Poderia ter sido um dia na praia, a areia branca, ao longe o mar sereno, na esplanada as conversas de engate, na espuma das ondas o nadador-salvador.
E depois estou na rua e olho para as caixas de correio dos outros e penso… There are no little secrets. Enfio em cada caixa uma palavra. Todas juntas são a minha história. Agora sou mais leve. As lágrimas fogem-me e vão cair na cozinha, onde tu estás, de costas para a porta, a cozinhar para mim, sossegado, à espera.
O telefone toca.
- Sou eu. Olha para o telefone. Atende. Atende.
Repito.
- Atende.
Estou na rua, descalça, com as tuas calças cinzentas, a olhar para as caixas de correio. Telefono-te.
- Estou a chegar.
A rádio está ligada. Entro e estás na cozinha. Sento-me, molhada, descalça, leve, com as tuas calças velhas. Chego e contas-me o teu dia.
2 Comments:
Ora, ora! Alguém soltou de novo a voz que tanto gosto de escutar e da qual tinha tantas saudades...
Gostava que continuasses as tuas histórias para saber o que acontece a seguir. E amanhã?
beijos
M.
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