terça-feira, janeiro 17, 2006

sopa de peixe

Apetecia-me agora uma sopa de peixe. Um caldo quente, forte, encorpado, aconchegante, que me distraísse da chuva e me fizesse esquecer o Inverno.
A minha primeira sopa de peixe comi-a à mesa de uns pescadores afáveis. Entrei, sentei-me e saboreei a sopa, acabada de fazer. Naquela casa fui eu sem fugas ou expedientes. Eu, o Ti Francisco, a D. Maria Eufémia e tu. Sentados os quatro na cozinha vazia de móveis de porta aberta sobre a enseada.
Comi, quase em silêncio, quase de olhos fechados, quase em sossego, a tornar minha a quietude e a calma de quem respeita o mar pela sua imensidão e pelo alimento que concede a quem o compreende.

Lembro-me do dia em que me ensinaste a fazer a tua sopa de peixe. Convidaste-me para jantar. Quando cheguei tomaste a cozinha da tua avó, vestiste o avental e com voz doce pediste-me para te ajudar.
Sentei-me enquanto arrumavas com cuidado os ingredientes na mesa de madeira. Com vagar e amor, – sempre disseste que é com amor que se cozinha –, começaste a cozinhar e a explicar cada pormenor
- Tempera-se o peixe com alho, azeite, sal e louro. Numa panela grande coloca-se a cebola cortada em rodelas, o alho, o louro, a pimenta, os tomates em pedaços, a salsa e o azeite. Deixa-se refogar e acrescentam-se as batatas, a mandioca, o inhame e a abóbora cortada em cubinhos.
Enquanto explicavas o som do mar embalava-nos. A janela da cozinha da tua avó, rasgada de parede a parede, deixava ver a praia invadida por uma luz alaranjada muito viva.
- Deixa-se ferver um pouco para ganhar sabor e coloca-se água suficiente para cobrir tudo abundantemente.
Fizeste uma pausa e olhaste-me com atenção para teres a certeza que eu estava a aprender
- Só quando todos os ingredientes estiverem quase cozidos é que se acrescenta o peixe. Depois da cozedura se o caldo estiver líquido, prepara-se à parte uma colher de farinha diluída num pouco de caldo e acrescenta-se com suavidade.
Sorriste e levaste-me pela mão até ao fogão. Destapaste a panela… cheirava a mar e a Verão. Ao jantar, na varanda, já depois de escurecer, comemos a tua sopa de peixe acompanhada com papas de milho enquanto a brisa trazia a músicado bar do Mateus...