terça-feira, julho 03, 2007

Prende-te

- Prende-me a ti ! - disse a raposa!
- Eu bem gostava – respondeu o principezinho- mas não tenho muito tempo.
- Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é preciso fazer? – Perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de desentendimentos e mal-entendidos. Mas todos os dias podes sentar-te um bocadinho mais perto.
Ritual

- Era melhor teres vindo à mesma hora – disse a raposa. Se vieres por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da fe-li-ci-da-de! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo a pô-lo bonito, são precisos rituais
- O que é um ritual? – Perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa – é o que faz com que um dia seja diferente do outro e uma hora, diferentes das outras horas
Partida

- Agora vou-me embora e vais-te por a chorar?
- Pois vou - disse a raposa
- A culpa é tua, eu bem não queria que te acontecesse nenhum mal. Mas quiseste que eu te prendesse a mim. E não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! – Disse a raposa – só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

O principezinho
Antoine de Saint Exupéry