sexta-feira, julho 30, 2004

Só Eu

Não quero ser penhasco alto e escarpado
Não quero ser ilha inacessível e só
Não quero ser península independente e segura
Não quero ser castelo murado e protegido
Não quero.
Não quero ser país longínquo
Não quero ser cidade histórica.
Não quero ser monumento visitado
Não posso.
Não posso ser quadro famoso
Não posso ser livro adorado
Não posso ser disco apaixonado
Não quero.
Só quero ser eu.
Estou triste. Portugal está a arder.

quarta-feira, julho 28, 2004

Regressos

Eu que fundei todos os sonhos
Eu que percorri todos os desejos
Quero inventar outro mundo
Onde a dança invade os corpos que flutuam
Onde os livros entram devagar na razão de quem os ouve
Onde o som é ser e está em tudo

Estou onde todos estiveram.
Percebe-me tu!
Com urgência.

Quem me dera....

Que parem todos os relógios!
Que morram todos os risos!
Que sequem todas as lágrimas!
Porque cheguei ao fim.
Ao fim do meu principio
Vem!
Invade-me a alma
Faz-me ser outro alguém
Não quero ser suspiro escondido
Não quero uma ferida que dói
Existo só nos teus olhos

Começa em mim a vida todos os dias
Sonhei todos os sonhos
Sonhei a sós por ti
Andei todos os caminhos
Respirei todos os murmúrios
Desejei todos os desassossegos
E cheguei
Onde já não quero estar!

segunda-feira, julho 26, 2004

Rádio
Ouço rádio uma boa parte do dia. Como agora. Telefonia Sem Fios em 105.5 Fm. Não tenho o hábito de colocar as MINHAS MÚSICAS, não sei bem porquê. Aconteceu.
De repente, fiquei com saudades. Saudades de fazer rádio. No início assustava-me ficar sozinha no estúdio, falar e não ter feed-back, não ter um olhar, um gesto do outro lado.... Saudades das cumplicidades que se criam… do lado de lá do microfone, do lado de cá da rádio. Há magia na rádio.
Tenho saudades de brincar no quintal ao som da rádio que inundava a casa.... a acompanhar-me enquanto saltava ao elástico. Tenho saudades da adolescência do Oceano Pacífico e até da infância dos intermináveis Parodiantes de Lisboa.
Tenho saudades do Postigo da TSF. Tantas e tantas noites de insónia foram passadas a conhecer as noites de outros que, tal como eu, deviam tempo ao João Pestana em troca das palavras do Fernando Alves e do prof. Carlos Amaral Dias  Um programa marcou-me particularmente, alguém que não saia de casa há anos - por causa de uma fobia que se instalou nele -  recebeu em casa a rádio. Continuou sem sair, mas por breves minutos teve o mundo lá dentro.
Tenho saudades das manhãs agitadas da TSF ao som do incontornável Fernando Alves. Não é jornalista, é poeta, conhece as palavras como ninguém, na sua voz, ao seu ritmo, os sons ganham novos significados, encaixam na perfeição em contextos inesperados. Tenho saudades do Freud e Maquiavel, dois príncipes que me criaram a deliciosa rotina de um amanhecer preguiçoso, um acordar mais lento aos domingos preparando o Flash Back.
Aquela TSF acabou. A SIC Notícias herdou a Quadratura do Circulo. Mas os convidados perderam o mistério, já não estão em mangas de camisa, já não agitam os braços, já não abrem os olhos de espanto. Apresentam-se maquilhados, cuidados, quietos, a tirania da imagem apanhou-os.
Há magia na Rádio.Tenho Saudades de FAZER Rádio.

sexta-feira, julho 23, 2004

Adeus Carlos
Ouvi agora na TSF. Morreu o Carlos Paredes. A saudade chegou ao som dos Verdes Anos. Veio-me à memória a sua figura alta, pacata, discreta, de óculos, quieto. Apenas uma característica: GÉNIO.
Depois um enorme desfiar de memórias de todos....
“Músico com dom de anjo. O Carlos!? Toca a saudade, vive e respira a música. A alma portuguesa aprendeu a falar através das suas notas. Um português raro”
Muitas frases já ditas esta manhã. Muitas mais se dirão sobre ele, hoje, amanhã, ainda Domingo, talvez durante a próxima semana.... e.... regressará o silêncio outra vez. Mas ontem…. Ontem, quando ele ainda estava cá, ninguém se lembrou de lhe dedicar uma frase, uma palavra.
Nem eu

Manuel Alegre, amigo pessoal de Carlos Paredes, dedicou-lhe um dia um poema. Aqui fica!

A Guitarra  (A Carlos Paredes)


A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de Batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).

Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir.

Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.

(FIM)

quarta-feira, julho 21, 2004

Ontem foi assinalado o 35º aniversário da primeira ida à Lua. A primeira vez que um ser humano pisou a Lua. Pensei que nestes 35 anos o mundo pudesse ter  evoluído mais depressa, pensei que hoje existisse uma colónia de terrestres a povoar a Lua. Pensei.... O meu fascínio pelo Espaço começou com os desenhos animados Era uma vez.........O Espaço...  ainda tenho aquela melodia nos ouvidos.
 
A quem interesse, aos senhores do mundo que dominam a corrida ao espaço, desde já me declaro VOLUNTÁRIA para habitar a Biosfera III criada fora do planeta terra. Ora aqui está um tema que me apaixona. A vida no futuro, entre a ficção cientifica e o sonho de dominar as adversidades da natureza.
 
Biosfera I: O globo terrestre; local onde se desenvolve a vida

Biosfera II: Projecto iniciado nos Estados Unidos, em setembro de 1991, com o objectivo de aprofundar os conhecimentos sobre a Terra - considerada Biosfera 1. Um projecto para estudar  os problemas de sobrevivência noutros mundos. A operação desenvolveu-se numa área de 1,27 ha no deserto do Arizona, a 65 km de Tucson, numa estrutura  de aço e vidro, onde deveriam viver quatro homens e quatro mulheres acompanhados por quatro mil espécies de plantas, animais e microorganismos. Os oito participantes do projecto tinham à disposição biossistemas que reproduziram a floresta tropical, o oceano, a savana e o deserto, além de 18 áreas diferentes de cultivo. No interior da estufa, o  ar era reciclado,  apresentando-se húmido e tépido, a chuva foi provocada  artificialmente  e a água era também reciclada. O projecto deveria durar dois anos.
Desconheço os resultados

segunda-feira, julho 19, 2004

O Francisco faz parte da minha vida hoje e, acho que fará sempre parte de mim. Além da ligação de sangue há... o amor. Conheço-o desde que nasceu, vi-o com horas: grande; lindo; gordo.
Depois entrou na nossa casa e ficou. Volta muitas vezes. Conhece os cantos de cada quarto, tem o saco dos brinquedos dele religiosamente guardado. Pela casa não faltam as suas fotografias, ao lado das nossas, como se ele fosse nosso também.  
Lembro-me do seu cheiro a bebé, da dificuldade em adormecê-lo calmamente, do tempo em que não parava e a casa só conhecia sossego quando ele, por fim, sucumbia ao cansaço, num qualquer canto, onde tivesse decidido render-se, junto a um brinquedo abandonado.
Agora, já crescido, sabe vestir-se e tomar banho sozinho, disse adeus às fraldas e quando fica cá, é na minha cama que adormece. Ainda cheira a bebé. Ás vezes os seus bracinhos encontram-me no escuro e seguram-me a mão com força e, no meio do sono, pergunta-me:
- És tu Madinha!?
Tranquilizo-o…. e ele cai no sono profundo, uma vez mais.
É nesses momentos que penso, que o carinho que ele me desperta, esta vontade de o chamar de meu amor pequenino, de o querer mimar e proteger, de o prender a mim, é provavelmente o instinto materno de que tanto se fala.
E quando não está aqui, quando não nos visita durante algum tempo, morremos todos de saudades.
Descobri que gosto mesmo da poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen. Descobri que já gostava, só não sabia que eram dela as palavras que apreciava.

Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
 
Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.

sexta-feira, julho 16, 2004

O som da água no silêncio da noite à espera que a porta se abra, aguardando que a luz ilumine a entrada e que os sorrisos se abram num abraço de boas vindas, o motor do carro ainda a trabalhar, nós na expectativa, à espera de saltar lá para fora, a sonhar já com uns dias de sol, de espaço, de infância…. Era assim que começavam as férias na aldeia. Chegávamos quase sempre sem avisar, fora das horas marcadas, previstas, faladas, já noite, depois da hora de jantar.
Era uma lufa-lufa. Alguma coisa para os miúdos, fazer as camas, descarregar o carro. O dia tinha sido longo. Era-o sempre. Vínhamos de longe, no tempo em que Portugal era um país grande. Paragem em Lisboa e pronto, já não saíamos dali. Beijinhos, histórias, conversa, sorrisos e lá retomávamos viagem, agora até ao Porto, às vezes também havia pausa por ali. A invicta que me lembro era só arredores, casas, prédios, ruas cheias de miúdos com sotaque diferente (ai se me ouvissem hoje) …. O Porto era também S. Bento, Campanhã, Bolhão, ruas sempre inclinadas, escuras, estreitas, pouca luz, autocarros velhos, ovos estrelados, sim tenho memória de ovos estrelados….
Mas era quando via os meus avós a sorrir, a sair da cozinha que a nossa viagem acabava…. E no dia seguinte era andar por lá, ao sabor da calma do campo, ao ritmo das tarefas dos adultos e com a liberdade de entrar e sair sem abrir ou fechar portas.
Sempre associei as férias na aldeia, a verão, a lazer, a infância, a família, a avós. Depois foi difícil voltar lá.
Hoje, a fonte ainda é a mesma, a água a cair tem o mesmo som daquela memória de anos atrás, mas já ninguém abre a porta, já ninguém sorri à chegada. A casa é AINDA minha, mas está vazia.

quinta-feira, julho 15, 2004

A febre dos blogs já lá vai e só agora me rendo aos diários on line. Melhor, nunca gostei de modas, gosto de as adaptar a mim, quando me apetecer....
Escrever sempre foi uma paixão. Desde miúda que ocupo muitos dos meus tempos livres de caneta na mão e a encher folhas e folhas. Antes escrevia com uma letra redondinha, muito, muito certinha, agora não, já não gosto de esferográficas nem de lápis, só para fazer riscos e desenhos. Agora é no teclado que surgem as palavras à minha frente. Tempos houve em que passava as minhas manhãs (a escola era só à tarde) a inventar histórias fantásticas que nasciam na minha cabeça e ganhavam vida nos cadernos de capa vermelha, entre um jogo do “mata” e um passeio de bicicleta com a Tita, a Sofia, a Glória, o João ou o César. Agora escrevo sem regularidade sobre tudo, sobre nada, sobre o que penso, sobre o que vivo, o que quero, o que desejo, o que faço, o que sonho.... Sobretudo sobre o que eu SOU. E estão abertas as festas!