segunda-feira, maio 30, 2005

Viver pela metade

Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente

Pablo Neruda

segunda-feira, maio 23, 2005

Quis ser egoísta

Segunda-feira. Depois de passar pelo meu gabinete, depois de organizar pendentes e urgências decidi que precisava de uma pausa.
No bar aproveitei o silêncio e perdi-me em balanços internos, aliás como é hábito, abstraí-me do mundo e parti sem rumo para dentro de mim. Deixei-me ficar a olhar a cidade. Naquela sala envidraçada do 14ª andar, a cidade aparecia calma, quase harmoniosa, apesar da chuva.

Não me apercebi da tua chegada. Só te senti quando me tocaste no ombro. Aproximaste-te com um sorriso terno e com o teu olhar cristalino. Sinto-me segura dentro do teu olhar. Tenho saudades de me perder nele, como antes…

Ficamos a conversar. Voltaste a pedir-me o (im)possível…. Pediste-me para construir uma vida contigo, uma família. Falaste-me dos filhos que querias ter comigo, da casa, do jardim, dos passeios ao pôr-do-sol.

Fiquei em silêncio. Não te interrompi. Desta vez não te pedi que parasses.
Não te disse que Não, que não tenho espaço para ti em mim. Desta vez desejei desejar essa vida normal que me dizes poder existir. Desta vez levantei-me sem saber o que te responder.
Desta vez, acredita, quis pedir-te que ficasses. Quis ser egoísta e pedir-te que não desistisses.
Não pedi. Mas tu, mesmo assim, ficaste.

sábado, maio 21, 2005

Naquele dia...
chorou…. Começou devagar, depois foi impossível parar. Chorou quieta, sozinha, quase em silêncio. As lágrimas nasceram quentes, salgadas, encorpadas, consistentes, involuntárias, sucederam-se com a força de quem percebe que desiste.

Naquele dia entregou-se ao fluir da tristeza, deixou de lutar, de querer mudar o mundo, o dela e o dos outros, ficou à deriva. Foi jangada solitária e iniciou viagem….

Naquele dia chorou de decepção… Sem dor, sem raiva, sem fúria, já sem revolta… apenas desencanto. Desencontrou-se da ilusão e da esperança. Naquele dia as palavras ficaram caladas. Chorou. Naquele dia chorou por ela. Sentiu-se perdida na terra do depois. O lugar onde chega quem naufragou.

Naquele dia chorou até adormecer.
Depois…Depois pensou que o encantamento podia voltar devagar. Há momentos em que acredita que sim, há outros em que se vê de olhos fechados.

quarta-feira, maio 18, 2005

Hoje rejeita a facilidade

Durante muito tempo ela desejou uma vida normal. Só uma vida normal. Durante muito tempo sofreu por tudo na vida dela ser diferente, difícil, obscuro, intrincado, confuso.
Sempre, quase sempre. Pelas pessoas que se atravessaram na sua vida, pelos acontecimentos, pelo fluir aos socalcos de uma vida descontinuada.
Durante muito tempo foi critica feroz, perseverante e imperturbável de todas as suas acções. Exigiu apenas a perfeição que sempre lhe impuseram.
Durante muito tempo foi assim…
Hoje rejeita a facilidade, abandonou o desejo da normalidade, do devir consequente e coerente. Compreendeu que a vida dela é esta. Não é uma vida vulgar, nada é fácil, simples, claro, até justo. Mas é a vida dela, não é pior nem melhor do que outra vida qualquer, é apenas a vida que vive.
A rejeição da facilidade complica-lhe os dias, tortura-lhe os minutos, enreda-lhe os segundos. Seja.
Seja pela via mais sinuosa, pelo caminho mais longo, pelo terreno mais acidentado. Sempre. Seja pelo percurso de tentar perdoar-se por não ser perfeita, por não ter uma vida acabada, por não poder ser o tudo.

terça-feira, maio 17, 2005

Fascínios arquitectónicos 3#

Lofts

Descobri os Lofts nos filmes americanos. Apaixonei-me pelas zonas amplas, pela inexistência de limites, pela continuidade.
Chegaram a Portugal (Lx) recentemente como casas amplas, muitas vezes em antigas fábricas recuperadas. Com janelas enormes, em zonas portuárias, perto do mar ou à beira rio. Sempre a água. Sempre o fascínio arquitectónico. Sempre a luz e a liberdade dentro de casa. Sempre a diferença. Um Loft é uma casa viva, em perpétua mudança e transformação - Live house. Uma casa viva, com vida que convida a viver. Esta também podia ser a minha casa, um espaço com ambientes integrados. Podia ser feliz a viver num Loft :)

segunda-feira, maio 16, 2005

Fascínios arquitectónicos 2#

Faróis

Outra fantasia que me povoa a imaginação, desde que me conheço, e já lá vai muito tempo, era viver num Farol.
Poder morar numa casa até ao céu.
Um farol avermelhado, todo em ferro, pedra antiga e vidro. Gingante. Especialmente silencioso em dias de tempestade, em que o mar zangado lança as suas ondas contra o pontão onde se ergue o farol.
Um farol sobranceiro à praia Um verdadeiro monumento//lar e melhor que tudo, minha morada.
Lá dentro os espaços são sempre limitados pelas janelas, pelas colunas, mas labirínticos e apaixonantes, quentes, altos, silenciosos, quase mágicos, porque neles habita o espírito do mar.
Há uma lareira enorme que se repete na cozinha, nas salas, no escritório. O calor do fogo funde-se com a escuridão do céu e com o ferro avermelhado. Não se move ninguém em silêncio dentro do farol, os passos ecoam até à torre.
Lá em cima a companhia das gaivotas e das andorinhas é permanente.

sexta-feira, maio 13, 2005

Fascínios arquitectónicos 1#

Moinhos

Não me lembro desde quando. Mas sempre desejei morar num Moinho. Enorme, alto, talvez por adorar a história de D. Quixote. Talvez por idealizar o Moinho muito branco, situado no alto de um penhasco, com vista sobre o mar com o sol no horizonte.
O moinho muito branco por dentro é moderno.
Tem muita luz, janelas rasgadas até ao tecto, não há cortinas, nem cortinados, nem obstáculos que impeçam o mar de invadir o Moinho. Cores claras, sempre. Espaços amplos que deixam ecoar o som da música até ao jardim. Sim o Moinho está rodeado por um jardim que vai até ao início do penhasco. O moinho é o meu refúgio, preso entre o campo e a cidade permite-me vir resgatar forças e continuar a olhar o mar com a mesma paixão. As escadas são de ferro preto e madeira velha, a casa cheira a minha, a flores e a mar. Perco-me nas leituras, no sótão, junto à lareira acesa que me embala enquanto olho o horizonte. Gosto de sonhar com o meu moinho/casa/lar/refúgio.

quinta-feira, maio 12, 2005

Palavras que nunca disse

Será que há palavras que nunca utilizei, consumi ou ofereci?
Será que não as vesti deliberadamente?
Porque não as fiz minhas?
Conseguiremos estabelecer relações de afectividade com as palavras?
A nossa relação com as palavras é baseada no som e no sentido ou no que está entre os dois? O seu indefinível significado…

Há escritores que dizem criar as suas obras a partir de palavras, não de ideias ou de conceitos, mas só de palavras. Os textos nascem em torno de palavras, letras conjugadas que naquele instante fazem toda a diferença e são engrenagem para a fantasia. Sempre me demorei a analisar palavras, a dize-las com vagar, a degustar cada som, a experimentar e inventar novos significados.

Aprendi este jogo em semiótica da comunicação, devo este prazer a um professor fantástico que me abriu as portas da paixão pela comunicação, pela escrita, pelas palavras. Gosto das palavras. Gosto. Hoje acordei assim, a pensar que há palavras que nunca disse. As palavras que nunca pronunciei só porque não sei quais são… antes assim :)

quarta-feira, maio 11, 2005

Oh red sea!

Oh red sea, Oh red sea!
How lovely are you waters!
So many fishes, so many colours
I love the corals, I love the blue
I love the time I spend with you ;)

Oh red sea, oh red sea!
Of all the seas most lovely
Each time you bring me to delight
I love your sun always so bright

Miss you

terça-feira, maio 10, 2005

Mar.vermelho@ferias.com

Voltei ao Egipto.
Desta vez tendo como destino o mar.
Desta vez deixei para trás os monumentos e a história e fui em busca da brisa marítima.
Desta vez contactei mais com os locais, ou pelo menos mais de perto com alguns locais.
Desta vez arrastaram-me :) para o fundo do mar…

Estive em Safaga, Hurgada e principalmente embarcada.
Hurgada dotada de aeroporto, especializada em turismo de mergulho, é uma cidade recente, feia, barulhenta, perdida entre o mar e o deserto, mas com jovens simpáticos de olhos vivos e sorriso fácil, muçulmanos ou cristãos, em tudo quase iguais aos portugueses, aos espanhóis, aos franceses…
Mas só o sol e o mar valem a viagem. As águas muito azuis e translúcidas, os corais que se erguem até à superfície, os peixes de todas as cores…

Underwater impera o silêncio, a ausência de peso, a luz transparente, o som apaziguador da respiração pausada sustentada pelo regulador e um universo paralelo repleto de vida
Espreitar o fundo do mar vermelho é realmente um privilégio. Apetece voltar….
Privilégio foi ainda viajar com o grupo de pessoas que acabei por conhecer melhor.

Ao anoitecer gostei bastante dos bares informais sob as estrelas, onde entrávamos de pés descalços, onde nos acomodávamos pelos tapetes e almofadas no chão, no meio dos cachimbos de água, do chá e da cerveja. A música oscilava entre os sons locais e alguns êxitos disco-sound, uma mistura que não incomodava, porque o tempo era de férias e para saborear devagar

domingo, maio 08, 2005

Estou de volta :)

A emissão segue dentro de momentos.