segunda-feira, janeiro 31, 2005

Cantarolar

Não sei até que ponto é inconveniente, inoportuno ou indelicado.
Não sei.
De facto, faço-o inconscientemente e de forma espontânea. É um hábito que me acompanha. Trabalho sempre com música, quase sempre com o rádio ligado. Depois, à medida que as melodias se sucedem na telefonia, também eu vou trauteando refrões e acordes. Bem sei que não fui abençoada com uma voz extraordinária, mas o que me falta em afinação, sobra-me em desinibição e lá vou cantarolando ao longo das muitas horas de trabalho.
O mais engraçado é que recentemente reparei que mais ninguém, no meu espaço de trabalho canta (ou dança discretamente na cadeira). Só eu o faço. Mas também nunca se mostraram incomodados. São até momentos de informalidade e descontracção que contribuem para o bem-estar geral, estes em que me apanho a imitar os cantores e cantoras do momento.
Levei a analise mais longe.
E não é que canto no chuveiro!!!! Desde sempre, segundo me asseguraram…. (aqui é a parte em que coro)
Cantar e dançar assim que acordo anima-me o levantar. Suaviza-.me o iniciar de cada jornada. Gosto! Faz-me bem!

quinta-feira, janeiro 27, 2005

D. Quixote foi-se embora

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual

E agora, que a lua escureceu

e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p'ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já fora
mvelas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farra
pós feitos de medo, solidão e frio

Jorge Palma

Acho que sim. Hoje o Jorge cantou esta canção só para mim. Acertou! É assim que me sinto.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

SOL

É uma visão egoísta, bem sei, mas este Inverno solarengo agrada-me. Tenho para mim que a chuva e os dias cinzentos contribuem para me tornar resmungona :) Essa chuva que dizem já estar em falta para alimentar prados e animais.

Por estes dias, sabe-me mesmo bem abrir a janela, logo de manhã e deixar a luz entrar no quarto, chegar ao emprego e a sala estar quente e iluminada…. Dá-me energia e vigor. Apetece-me andar a pé e sentir o frio na cara, ter tempo para me ouvir e arrumar, lá fora ao sol.

Gosto de poder ir até à beira-mar, sentar-me numa esplanada e saborear a luz do sol de olhos fechados, ouvir o mar e pensar que estou de férias de “faz de conta”.
Chega o fim-de-semana e procuro um jardim para poder ficar na relva, à tua espera, com um livro na mão. Aborrece-me ficar entre quatro paredes e perder a luz.

E depois há também a vantagem de poder comer gelados, afinal quem gosta! GOSTA SEMPRE!!!

terça-feira, janeiro 18, 2005

Amor

"O noivo pediu a Evita que se calasse – Porque ficava tão céptica perante tudo? Evita não sabia que o cepticismo destruía o amor?"

Costa dos Murmúrios
Lídia Jorge

segunda-feira, janeiro 17, 2005

O espírito das casas

O espírito de uma casa está relacionado com a luz que utiliza, aprisiona e reflecte. As divisões agradam-nos consoante a entrada da luz, de acordo com o mundo que deixam entrar pelas janelas rasgadas nas paredes que isolam o interior. É afinal a luz que marca e cristaliza cada lugar.
Por isso, a luz natural tem tanta importância nos projectos de arquitectura. Mas é também a relação e o respeito da casa com o meio onde está inserida que faz dela especial e única. É na harmonia de todos os elementos que está a chave do ideal.
Este entendimento é mais fácil de encontrar no campo, onde o espaço ainda existe, onde o silêncio é menos raro, onde o natural está mais presente.
Nas nossas cidades, a casa que vive em harmonia com o espaço onde está inserida, em que as paredes não são obstáculos, em que a luz não é filtrada mas absorvida e reutilizada são uma verdadeira extravagância.
Pero que las hay! Hay!

domingo, janeiro 16, 2005

Arquivo Morto

O tempo tem um efeito poderoso. Agarra as nossas recordações e limpa-as, sacode-as imperfeições, arruma-as no campo do que já foi. Guarda-as e transforma-as sem darmos por nada.
Quando recordamos o presente que foi, evocamos um passado diferente. O tempo acaba por dourar a pílula”, julgamos ter vivido o que não vivemos, obliteramos o menos bom, exageramos o agradável. O passado vai ganhando perfeição com o fluir dos dias.
Olhamos para trás e filtramos o que vivemos.
Na comparação entre o passado e o presente, a vitória pende para o lado do que já foi.

O presente raramente é valorizado como mereceria, porque nos achamos donos desse tempo, porque no egoísmo do momento nos esquecemos que deixará de ser nosso em breve e não o saboreamos, não o retemos devagar como quem saboreia um pedaço de chocolate, como quem deixa o doce chegar lentamente às papilas gustativas.... e olha o horizonte da planície alentejana ;)

quarta-feira, janeiro 12, 2005

www.anónimos.com

A Internet é hoje uma séria ameaça ao anonimato. Na net descobri passados, presentes, histórias e segredos. Não falo de informação pura, refiro-me a pessoas, a identidades, a indivíduos com características únicas e intransmissíveis. Conheço pessoas que nunca me foram apresentadas. Sei dos seus passos. Sei da sua vida. É só saber procurar.
O que descobri foi sem esforço, sem intenção. Quase por acaso. Limitei-me a inserir palavra após palavra.
Tive acesso a muito do que eu julgava resguardado…. Mas não se trata de qualquer transgressão, não são informações classificadas como confidenciais, não são do campo da violação da privacidade e nem sequer são fruto de manobras de hackers. São apenas e só informações simples, inócuas, enquanto separadas, mas depois de cruzadas, somadas e organizadas acabam por confessar quem somos.
Percebi no entanto, que há pessoas mais fáceis de localizar, de circunscrever. Algumas por motivos profissionais, outras porque gostam de se expor de muitas formas e encontraram na net o campo ideal.
Fiz o teste.
Não sou fácil de rastrear.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Because I have the… Right To Be Wrong


I've got a right to be wrong

My mistakes will make me strong
I'm stepping out into the great unknown
I'm feeling wings though I've never flown
I've got a mind of my own
Flesh and blood to the bone
See, I'm not made of stone
I've got a right to be wrong
So just leave me alone

I've got a right to be wrong
I've been held down so long
I've got to break free
So I can finally breathe
I've got a right to be wrong
Got to sing my own song
I might be singing out of key
But it sure feels good to me
I've got a right to be wrong
So just leave me alone

You're entitled to your opinion

But it's really my decision
I can't turn back I'm on a mission
If you care don't you dare blur my vision
Let me be all that I can be
Don't smother me with negativity
Whatever's out there waiting for me
I'm going to face it willingly

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Na espuma dos dias

Descobri finalmente.
O tempo foge-me todos os dias. Há anos que isto me acontece. O tempo voa, esvai-se entre os meus dedos, deixando-me uma sensação de desconforto, de impotência e frustração. Olho para trás e são já muitos os meses, os dias, as horas que deixei lá longe, sem possibilidade de os reaver.
Preocupava-me esta consciência.
Apercebi-me no entanto, que este sentir é partilhado por quase todos os que habitam a vida neste século XXI, exceptuando talvez as crianças.
Regressando ao passado, ao meu tempo de criança, lembro-me do passar vagaroso dos dias, das longas férias de Verão, de Natal, de Páscoa. Dias e dias sem planos feitos, descobertos ao sabor das aventuras que surgiam inesperadamente e que se prolongavam pela noite fora, nas ruas. Não passava os dias cá dentro como hoje. Havia sempre luz, sol, ar, barulho, gente, muita gente.
Actualmente, os dias passam iguais, ou quase, os meses parecidos, as semanas similares, as vidas de todos muito próximas, pouco há que detenha o tempo, que marque a diferença, que cristalize o momento. Não se valorizam os nadas, os tudos, as marcas que agarram os segundos, obrigando-os a passar devagar.
É esta repetição que está a matar os dias.
Basta!
Carpe Diem

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Os outros blogs

Sei de fonte segura que depois de criar o meu blog, depois de o revelar ao mundo, depois de partilhar o prazer que me dá vir aqui deixar um pensamento arrumado, algumas das pessoas que me rodeiam, aventuraram-se neste mundo. São vários. Criaram blogs fresquinhos, recuperaram outros e tudo porque, e neste campo a dedução é minha, perceberam o meu entusiasmo.
Também eu cheguei a este espaço pela mão de bloguistas, primeiro habituei-me a passar em revista, quase diariamente alguns blogs pelos quais me apaixonei. É verdade que o grupo tem flutuado, talvez fruto das mudanças de humor que me assolam de vez em quando, mas mantenho-me fiel aos blogs - Palavras partilhadas sem sabermos com quem…
Posteriormente deixei-me convencer. Porque não criar um blog meu?
Porque não!
Disseste-me, parafraseando Jorge Palma, que Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal/Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual/Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar/ Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar
Assim fiz e aqui estou.
Quis vir morar na minha terra dos sonhos. Neste espaço só meu posso revelar-me, posso ser quem eu sou, posso ser quem quiser, posso criar personagens que não serão mais do que facetas de mim…
Aqui como na vida posso….
E não deixo de ser eu ao inventar histórias. E não mostro menos de mim quando desvendo o que nunca ninguém conheceu. Aqui, entre estas paredes muito azuis, apresento o que a minha imaginação concebe de cada vez que a deixo sonhar em tons de oceano

quinta-feira, janeiro 06, 2005

O diário

Encontrei-o no meio dos livros. Capa negra, usado, muito usado. Abri-o ao acaso sem escolher data ou página. Abri o diário e li. As palavras surgiram conhecidas, próximas, familiares, minhas...

Paris, 10 de Dezembro de 2010

Porque é que quando todos estão felizes eu não consigo esquecer, abandonar-me ali.... Porque é que quando o mundo se harmoniza comigo, eu sinto esta angústia permanente de nunca pertencer, verdadeiramente, a lugar nenhum e a ninguém.

Como se vivesse sempre uma vida emprestada, à espera de uma mudança, à espera que um dia algo aconteça.
Vivo os dias pela metade, sempre alerta.
Vivo com o pensamento fora de mim.
Vivo a desejar ….
Vivo sem nunca sentir mais do que isto.
Estou lá e pronto. E depois já não queria… já não queria estar, mas se saísse morria.

Morria.
Eu sei que morria. Tenho a certeza. Porque era lá que queria ficar….

Sempre tua


Fechei o diário. Guardei-o na gaveta. Arrumei a secretária e sai. Saí dali sem olhar para trás. Nunca mais voltei.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Crescer

Fiquei com vontade de ver o filme “Á procura da Terra do Nunca”. Porque a magia da Terra do Nunca me encanta, apesar da racionalidade que a vida dos adultos me impõe. O facto de encarar a vida com algum do entusiasmo e às vezes até alguma da ingenuidade tão característicos das crianças é realmente (ou não!!!) o meu calcanhar de Aquiles. No entanto, reconheço a fantasia e o romantismo daquele canto perdido em cada um dos que me rodeia.
Saber sorrir, rir, aproveitar os belos momentos da vida, parar de correr, escutar, ter tempo, chegar ao pé de quem está à nossa frente e perguntar:
- Queres ser meu amigo? - é quanto basta para resgatar o Peter Pan.
O filme conta uma história de amizade entre um adulto e um bando de crianças. Não será uma obra-prima da sétima arte, mas terá com certeza algum ensinamento a reter, quanto mais não seja, a biografia do escritor que criou a Terra do Nunca – o lugar onde estão todos os meninos que se recusaram a crescer, Sir James Matthew Barrie

terça-feira, janeiro 04, 2005

Poemas

Quando a luz se apagou respirei fundo à espera. Ao canto acendeu-se um candeeiro e tu apareceste. Olhos muito brilhantes, rosto jovem, olhar vivo. Começaste a ler alguns poemas. Apaixonei-me.
Apaixonei-me pela tua voz, pelos teus movimentos, pela tua vivacidade.
Apaixonei-me pela poesia, por ti, pelas tuas palavras, pela tua paixão pelos livros.
Naquela noite foste meu.
Quando os nossos olhares se cruzaram eu tive a certeza.
Foi aí que começou a minha aventura com os livros. Foi depois dessas noites que decidimos criar uma editora. Uma editora para lançar todos os poemas que amávamos, todos os livros que nos faziam sonhar.
Voltei tantas noites àquele bar, ouvi-te vezes sem conta a declamar, a recitar, a viver cada palavra. Desafiaste-me depois a estar ao teu lado. Li para ti, para quem nos ouvia, para os nossos amigos, para quem frequentava o bar. Também o meu olhar se encheu de vida, também o meu rosto rejuvenesceu, também os meus movimentos te apaixonaram.
Entreguei-me de cada vez que as luzes se apagaram...

segunda-feira, janeiro 03, 2005

São 12

São 12 os desejos que escolhi para 2005, não precisava de tantos, mas são 12, um por cada passa comida ao som de cada badalada, a assinalar os últimos segundos de mais um ano cumprido.
E 2005 chegou. Um número que me merece simpatia, somado perfaz 7. Um dos meus números favoritos.
São 12 os propósitos a que me propus, não tanto para respeitar a tradição, mas simplesmente porque gosto de me reavaliar a cada fim de ano. Gosto de pensar em mim, no que quero, no que gosto, em quem gosto e no que procuro.
Mas não são desejos, são metas que quero atingir, concluir e ultrapassar, não por achar que seria mais feliz se as concretizasse, mas porque são os objectivos que quero agora estabelecer. Porque depois de ultrapassados seria uma pessoa melhor, teria uma vida mais plena e realizada, mais fácil, mais simples, mais perfeita (!!!!) porque no fundo, e sim, reconheço, se calhar seria uma pessoa mais feliz :)

Optimismo: E ao 3º dia de 2005 parece-me que tudo é possível...