sexta-feira, setembro 30, 2005

tabernas II


quinta-feira, setembro 29, 2005

as tabernas

viagens na minha terra #1

Vi um dia destes uma reportagem de uma associação de defesa das antigas tabernas. Um grupo de pessoas que, preocupado com o desaparecimento daqueles espaços, lançou uma luta quixotesca contra o inevitável fluir do tempo, em defesa das tabernas traicionais, espaços de inspiração, de conspiração, de encontro, além do comum consumo.
Lembrei-me da taberna da terra da minha avó.
Aquela onde entrei a correr para comprar rebuçados ou pastilhas gorila, grandes, de morango ou banana, cheias de açúcar… enchiam a boca. Hoje, as pastilhas elásticas são elegantes, sofisticadas, pequenas, com sabores exóticos. As gorila combinavam com as tabernas que cheiravam a anis.
Entrava a correr na taberna, comprava os rebuçados e as pastilhas com as mesadas de Verão, reforçadas pelos mimos dos avós, e voltava para o mundo das brincadeiras, daquelas tardes eternas que acabavam muito depois da hora do jantar.
Na taberna da Tia Orana e do Tio Vítor havia feijão e grão vendidos ao litro, havia vinho, muito vinho, tinto e escuro, com um cheiro forte. Havia açúcar amarelo. Sempre! Havia leite que vinha directamente da vacaria e era medido nas vasilhas que as mães e as avós levavam de casa.
Lá fora, a aldeia tinha vida, havia barulho, movimento, animais, gente, muita gente. Agora a taberna está fechada.
O tio Vítor ainda anda por lá. Mas já não abre a Taberna, só em dias de festa. Nas ruas já não se encontra ninguém. Os campos estão abandonados e as casas só se enchem no Verão, com os filhos da terra que aparecem para matar saudades, mas que rapidamente voltam para as suas casas, longe dali.
Na terra, a Taberna foi substituída pelo Café Central.
Modernices!
Um café grande, amplo, luminoso, com máquinas de jogos. Mas por estes dias também esse está fechado, recebendo apenas alguns poucos clientes ao fim do dia quando há futebol ou ao fim de semana. Mas a taberna, quando abre, ainda tem a magia dos bons velhos tempos, cheira a infância, a sorrisos e a anis.
Eu também quero salvar as tabernas. Principalmente a taberna fresca do Tio Vítor com as pipas arrumadas ao canto.

terça-feira, setembro 27, 2005

Ainda há contos de fadas


Este Verão fui madrinha de casamento. Um casamento muito especial. Especial porque a noiva foi a minha priminha favorita, aquela com quem dividi as férias de infância. Mais nova do que eu e filha única, teve sempre na minha casa os tios favoritos e dois irmãos postiços mais velhos. No Verão uniu-se ao grande amor da sua vida.

Um amor como nos contos de fadas. Sem olhar a imposições da sociedade, a exigências de casa, de carro, de empregos fixos e bem remunerados. Sem ter medo de revolucionar a vida por amor, ela e o seu Roland decidiram casar e surpreender todos.

Conheceram-se há anos na Alemanha. Conversaram muitas vezes entre almoços e livros e só muito tempo depois, e inesperadamente, um dia olharam-se de forma diferente. Desde esse dia até ao momento em que casaram, a sua vida foi vivida entre sonhos e utopias, todas elas alcançadas, todas elas realizáveis. O amor, a entrega, a ternura e a união que irradiam até hoje fazem-me acreditar que é possível construir sonhos.

Conheceram-se na Alemanha, apaixonaram-se em Espanha, perceberam que pertenciam um ao outro em Itália e em Portugal uniram-se para sempre. Pelo menos hoje, agora, acreditam que o amor pode ser para sempre.
Vieram convidados de todo mundo ao casamento. Conheci pessoas fantásticas, com uma riqueza interior cativante. Vivi uma cerimónia emocionante. Fez-me reposicionar a minha vida, os meus sonhos, as minhas concessões, as minhas quimeras… Fez-me perceber … que ainda há contos de fadas, que ainda há histórias de amor, que ainda há príncipes e princesas encantadas…
Para Sempre!

sexta-feira, setembro 23, 2005

eu tenho o infinito todo em mim...

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

Fernando Pessoa

quinta-feira, setembro 22, 2005

o primeiro dia

E se de facto hoje fosse mesmo o primeiro dia. E se agora fosse o momento, aquele, o "click"pelo qual esperei a vida inteira. Para me completar, para finalmente me encontrar. Hoje, surgiu-me esta vontade de ouvir Sérgio Godinho (tu sabes porquê).
Cheguei a casa e depois do jantar, fiquei a ouvi-lo, calmamente. As palavras a ecoarem pelo quarto, na penumbra. Pelo ar um cheiro a Outuno. Um ciclo que tende a fechar-se

A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebem-se as certezas num copo de vinho
vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Sérgio Godinho

terça-feira, setembro 20, 2005

nunca mais...

Calou-se. Sem forças para continuar e contrariando até a sua natureza de adepta do diálogo, da argumentação e da discussão, ficou calada, quieta, imóvel… Percebeu que o caminho estava trilhado... Compreendeu, sorriu e calou-se. Fê-lo tão peremptoriamente que ele percebeu… e não foi preciso dizer mais nada.
Levantou-se e saiu…

Quando ele deixou a casa para trás, vazia, alta, branca, silenciosa… a porta ficou aberta. Era uma porta antiga, pesada, de madeira velha, muito polida. Agora batia, batia com o vento e entreaberta mostrava a chuva lá fora….

A tempestade tinha piorado… ou se calhar só agora, com a casa em silêncio, já sem gritos ou discussões é que conseguiu ouvir a chuva a cair e o vento a atravessar o pomar, em fúria.
Ela ficou na porta, a sentir a chuva a escorrer-lhe pela pele, ficou ali, com a porta aberta e gritou… Gritou muito alto, para que ele a ouvisse, para que ela se convencesse, para que a tempestade passasse… Gritou

A extensão do 'nunca mais' depois de ti vai até à morte do universo. E é sobretudo isso que o torna …. completamente irreversível

segunda-feira, setembro 19, 2005

mistérios pequenos

O mistério da arte nasce ao inscrever no coração do homem tudo o que a vida sempre lhe revelou sem que ele soubesse como…. A arte nasce da solidão e é à solidão que se dirige, é o homem, a sós consigo, que bebe na arte tudo o que lhe é imprescindível para apagar a sede de perfeição… É através da arte que reconhece o belo, o mágico e a harmonia. É pela arte que surge a superação da alma, mesmo pelo que se criou para chocar e para ser feio. A beleza e a arte pertencem à imaginação e é pelo imaginário que possuímos o que não temos…

domingo, setembro 18, 2005

utopia

Nas utopias que até hoje se imaginaram faltou sempre imaginar o que aconteceria depois. Que se imagine uma vida em que tudo se realize e alguma coisa faltará ainda…

quinta-feira, setembro 08, 2005

Forte

Primeiro apaixonei-me pelo título.
Depois perdi-me com a música…

quarta-feira, setembro 07, 2005

um sonho maior que a vida

Emocionei-me a primeira vez que ouvi estas palavras. Com os olhos rasos de água e a pele arrepiada comovi-me pelo entusiasmo do homem que as proferiu, pela clareza das suas convicções, pelo valor dos seus desejos, pela grandeza dos seus actos, pela sua coragem, pela valentia que demonstrou e por lutar pelos seus sonhos. Acima de tudo por defender o seu sonho e por valoriza-lo até mais do que a própria vida.


"I say to you today, my friends, that in spite of the difficulties and frustrations of the moment, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal.
I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.
I have a dream today.
I have a dream that one day all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spiritual, Free at last! free at last! thank God Almighty, we are free at last!"


Martin Luther King

domingo, setembro 04, 2005

my summer of love



Gosto de viver momentos através da tela. Sentir em mim o desfiar lento das palavras provocadas pelas imagens que se sucedem no filme…. Textos internos que desenho entre o pensamento e o coração e que ganham forma, força e consistência.
Enquanto via My summer of love vivi minutos aproveitados, tidos como ganhos… e o jogo de palavras não se fez esperar….

Inocência, candura, ternura, beleza
descoberta, desafio, provocação
tentação, audácia, arrojo, proibição, interdição
sonho
desilusão, desencanto
Aprendizagem.... CRESCIMENTO

sexta-feira, setembro 02, 2005

revolução

Como esta casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro inicio
Como tempo novo
Sem mancha nem vicio

sophia m. breyner