sábado, junho 24, 2006

pequeno-almoço


Convidei-te tantas vezes para o pequeno-almoço. Agora na cama olhas o tabuleiro. A luz entra no quarto. Tenho os dedos na boca. Provo o doce de laranja. O frasco de compota na mão pequena. O cabelo despenteado, a pele bronzeada. É Verão. O sossego da manhã por companhia.
Fecho os olhos e posso imaginar-te a olhar para mim com o café na mão. É sábado, pesa-me o silêncio. Falo. O pijama às riscas azuis mexe-se, sou eu. É cedo, ainda é cedo. Temos tempo. Há uma brisa fresca que entra pela janela.

No quarto misturam-se cheiros, histórias, pensamentos, os meus, os teus, o mar, o céu, as vozes dos pescadores. O sol ainda preguiça. Já não está escuro no quarto, já não reconheço a tactear o caminho até à cozinha. É um sossego imaginar os barcos que passam lá em baixo na falésia.
O pequeno-almoço em cima da cama, tu acabado de acordar, os olhos fechados, as mãos pousadas e no tabuleiro o sumo acabado de fazer. Convidei-te tantas vezes para o pequeno-almoço…

O barulho do mar embala as primeiras horas do dia, O mar, sempre o mar e a distância que não existe. “Sou a estrela do mar só a ele obedeço/Só ele me conhece, só ele sabe quem sou/No princípio e no fim/Só a ele sou fiel e é ele quem me protege/Quando alguém quer à força/Ser dono de mim".

Debaixo do sol, de dia claro, ao pé do mar, com o pequeno almoço no colo “em silêncio trocámos segredos e abraços/Inscrevemos no espaço um novo alfabeto/Já passaram mil anos sobre o nosso encontro/Mas mil anos são pouco ou nada para estrela do mar”. Passaram mil anos desde que aqui entraste, quase nada. Come. Convidei-te tantas vezes para o pequeno-almoço. Nunca acreditaste!

sexta-feira, junho 23, 2006

subo as escadas





Subo as escadas. É verdade! Sou uma pessoa intensa. A tarde corre calma. Sempre fui. Não sinto a vida de outra forma. Arrebatada, impulsiva. As escadas erguem-se luminosas. A casa em silêncio primeiro, depois a música. Nunca fui irredutível e intransigente, nunca, mas as convicções que tenho parecem-me (quase) sempre claras e certas. Parecem. Cheira a café. Gosto de ser assim, instinto e razão, paixão e raciocínio.

Um barco no horizonte e continuo a subir as escadas. Devagar. Um momento para pensar. Pensar em mim, ver-me enquanto sinto os degraus, um atrás do outro.

Uma janela aberta para o mar. Ainda as escadas. Paro, lembro-me de ti. A canção ecoa pela casa. Canto também “ Fecha os teus olhos/ De vento e de sal/ Fecha os teus olhos/ Que me fazem mal”. Uma vida intensa é o que procuro “abre-me essa porta/de entrar e sair/nada nunca importa/eu só quero ir”. Vou e fico, venho e perduro. Constante. Sempre constante. A mesma. Ainda aqui, no meio da casa sozinha. Subo as escadas e acompanho a música que enche a sala “Quero ser uma manhã/ Onde a noite me levar/Quero ser um amanhã/Hoje não me vai chegar”.

Intensa, lembras-te?

Abraçar a vida toda neste minuto, explodir em palavras. Só palavras. Uma fúria que nasce em vagas altas e fortes que depois morrem na praia com suavidade e calma. Ser assim. Ser assim e viver i n t e n s a m e n t e “É ter fome, é ter sede de Infinito! /É condensar o mundo num só grito!” Chego ao quarto, a música segue já outra, as escadas ficaram para trás oiço... “E é amar-te, assim, perdidamente/ É seres alma, e sangue, e vida em mim”.

quinta-feira, junho 22, 2006

trauteando

Tenho gostado de ouvir esta música, logo quando acordo, às vezes no caminho. Gosto da letra, gosto da voz dela, gosto da intensidade e do envolvimento. Gosto.



Coração Despido

Quando me abraças
Me agarras nos teus braços
Eu me desfaço
Em mil pedaços
Perco os sentidos
E já nada me prende à terra
E nos teus olhos
Mergulho tão profundamente
Que até me esqueço
De respirar…

Oh meu amor
Não me digas que não vais
Acender o meu desejo
Com o beijo prometido
Tenho o meu coração despido
E só me resta

Viviane (Amores Imperfeitos)

quarta-feira, junho 21, 2006

um prazer

Estou de volta. Venho abrir as janelas de par em par.
Quis resistir ao ímpeto de escrever quando estou chateada, desiludida, desapontada, triste, nem sei. Quis e não escrevi. Resisti e deixei de aparecer…

Nos dias alegres e felizes não medito, vivo. Nos dias contentes não escrevo, penso e anoto num recanto da memória ideias, sonhos e vontades para mais tarde recordar. Nos dias assim assim desculpo-me com a falta de tempo ou com outras actividades e o resultado foi a total ausência de linhas de mim no blog que criei.

Durante a ausência daqui vieram pedir-me textos. Histórias, novidades, pensamentos, sensações ou sentimentos… o que fosse, desde que demonstrasse vida.

Voltei. Deixei-me de padrões, de paradigmas, de modelos ou moldes. Não tenho. Escrevo só quando me apetece. Invento, brinco, construo e edifico textos pelo prazer de usar as palavras, de as ler e sentir. Quase sempre só pelo gosto de lhes atribuir significados, outros ou os mesmos, mas ainda assim um prazer puro.