Não me lembro dos sabores. Pouco importa se era morango ou chocolate, o gelado que levavas à boca. Recordo principalmente o teu olhar doce, o frio, a descontracção com que ignoravamos o passar das horas. Está ainda viva em mim a vontade que senti de te mimar e cuidar. Naquele dia, enquanto saboreava contigo um saboroso gelado em pleno Inverno, algo mudou.
Nasceu em mim um sentimento novo, inesperado, uma sensação estranha até aí desconhecida. Por alguns momentos deixei de pensar só em mim, como sempre fiz, não por egoísmo, mas por hábito, por auto-suficiência, por determinação e independência e quis velar por ti. Não porque precisasses, mas porque eras meu, porque eu queria que estivesses bem. Vi-me ali, naquela gelataria antiga, a mesma da minha juventude, frente-a-frente connosco.
Tiveste a certeza que gostava de ti.
Há muito que me tinhas entregue o teu coração. Pelo menos assim o dizias. Eu não. Estava a apaixonar-me devagar, mas naquele instante percebeste.
Só mais tarde falámos disso. Na altura voltámos aos risos, aos mimos, aos gelados, às brincadeiras… aos beijos. Já não queria voltar atrás.
Gostava de ti e pronto.