Aprendi contigo a conhecer as cidades à noite, quando viajo. A querer conhecer os sítios que visito quando a noite chega. A partir sozinha, à chuva, ao frio, nas noites quentes, mas sempre sem pressa. Sempre devagar. Sempre sem hora de chegada. Sair só para sentir o pulsar das cidades. Conhece-las verdadeiramente. Descobrir as cidades quando o sol se põe e as luzes ganham espaço no labirinto das ruas, progressivamente abandonadas.
As cidades não dormem. Não adormecem como nós. Como tu e eu. Não respiram calmamente no escuro, já abandonadas. Não deixam a vida parada enquanto fecham os olhos. Não morrem todos os dias na almofada para voltar a renascer como se o tempo estivesse parado no momento em que o deixámos.
Aprendi contigo, a sair, a fechar a porta atrás de mim e a vaguear pela noite. Errante pelas ruas descubro outras vidas, reparo noutros pormenores, oiço outros sons, descubro outros sabores, sinto outros cheiros.
Ontem saí, fechei a porta, pensei em ti e parti. Parti pela minha cidade. Resolvi descobrir a outra vida da cidade que conheço todos os dias, quando amanhece. Depois sentei-me à tua porta e fiquei à espera que o sol nascesse.