terça-feira, novembro 30, 2004

2046

Filme longo, denso, prende do início ao fim, obriga-nos a uma atenção especial.
Analepses e prolepses não faltam.
A banda sonora é fantástica, a fotografia perfeita, a narrativa agradou-me.... A
s actrizes muito bonitas.
Mas a música, essa ainda ecoa em mim... apaixonei-me, até fiquei à espera enquanto corriam patrocínios e patrocinadores só para poder ouvir mais.
Em tons quentes de vermelho, o filme de Wong Kar-Wai pergunta o que vale estar perante a pessoa certa se for antes ou depois do tempo devido...

segunda-feira, novembro 29, 2004

Só posso ser eu

Quando pensava em criar um blog, acabava sempre a justificar a minha indecisão com o facto de me sentir exposta. Eu sei que só escrevo o que quero, eu sei que só depende de mim a decisão de me mostrar ou não.
O facto é que este blog, em poucos meses, tomou um rumo diferente do que aquele que eu tinha pensado inicialmente. Assumiu uma identidade e uma vontade própria. Tornou-se mais transparente, espelha o meu estado de espírito, o humor, os amores, os desamores, as aventuras, desventuras, as batalhas e as vitórias.
Ás vezes não me apetece que assim seja, combato essa exposição e tento reservar-me, outras não resisto e venho arrumar-me aqui, neste canto azul. Neste meu espaço que me organiza pensamentos e dias, desejos e fantasias.
Depois vejo-me através dos olhos dos outros, ou com o distanciamento que me era necessário e já não sei se sou eu.
Há quem me reconheça em frases, em promessas, em histórias, em passados nossos, em palavras partilhadas.
Só posso mesmo ser eu.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Nota

E sim VALE a pena!!!!!
Nem sempre

Nem sempre ouvimos o que queremos. Nem sempre os guiões estão definidos prévia e pormenorizadamente, nem sempre os diálogos estão alinhados e as deixas estudadas. Nem sempre surgem na interacção que mantemos as palavras correctas, no momento certo, as palavras mágicas que reporiam a normalidade. Há palavras mágicas?
Nem sempre nos colocamos no lugar do outro, nem sempre vemos os outros a fazerem esse esforço. Nem sempre somos percebidos. Nem sempre percebemos, é verdade! Mas como é que se pode pedir discernimento quando estamos magoados? Nesta fase já só conseguimos magoar, porque o instinto animal de defesa e de protecção já está ao rubro.
Nem sempre é fácil perceber que temos que parar e olhar a situação com algum distanciamento. Nem sempre fazemos o que é devido, o que esperam de nós, o que nós queremos. Nem sempre.
Nem sempre dizemos o que queremos, nem sempre dizemos o que sentimos, nem sempre conseguimos reparar o já que dissemos, nem sempre deixamos que seja reparado o que já ouvimos.
A vida não vem pronta, vive-se a cada dia.

quinta-feira, novembro 25, 2004

Maria Rita

Fui ver a Maria Rita. Uma voz forte, quente, cheia, agradável. Uma figura bonita, simpática, descalça. Cantei com o melhor do Brasil. Dancei, ri, cantei e desejei. Valeu a pena.


Não Vale a Pena
(Jean Garfunkel / Paulo Garfunkel)

Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar

Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente cá o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer
Que é uma pena

quarta-feira, novembro 24, 2004

Favoritos

Tenho nos meus favoritos vários blogs que leio com regularidade. Blogs ordenados por categorias, sobre política, sobre comunicação, blogs de pessoas que conheço, e dentro desses blogs aqueles que me são especiais. Há , no entanto, uma categoria de blogs que assume um espaço diferente. Blogs que, apesar de serem escritos por quem não me é próximo, por pessoas que nunca vi ou ouvi, apesar de não saber como é o olhar ou o toque dos seus autores, estão ligados a mim, porque os encontrei, porque os leio e aprecio a cada dia.
Para estes últimos, os blogs que escolhi por afinidade, por sedução, há rituais que gosto de respeitar. Nunca os leio no emprego, a correr, com a concentração dispersa ou distribuída. Gosto de os descobrir, em casa, no sossego do meu tempo livre, normalmente ao serão. Gosto de os visitar assim, quando nada me impede de os absorver, de os compreender, de os sentir por inteiro como merecem.
Surpreendem-me através das palavras que deixam. Eu sei que as escrevem para as tirar de si, para as arrumar fora, mas sou eu que as encontro, são minhas quando as interpreto e as aproximo do meu sentir.
São pessoas que descobri quase por acaso saltando de blog em blog, cativaram-me e fiquei. Voltei outras vezes, quase todos os dias. Nesses blogs percebo formas de viver e de escrever que me agradam, que me mostram que no fundo somos todos muito parecidos, que no essencial, num momento ou outro da nossa vida, todos temos formas de reagir que no seu âmago são de facto muito próximas.

terça-feira, novembro 23, 2004

Desencontros

Já reparei que são os desamores que empurram o ser humano a criar. Foi o desencontro que iluminou Luís de Camões no seu “amor é fogo que arde sem ser ver, é ferida que dói, e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”.
Foi a angústia do amor proibido que inspirou Florbela Espanca em Perdidamente “E é amar-te, assim, perdidamente...É seres alma, e sangue, e vida em mim. E dizê-lo cantando a toda a gente!”.
E tantos outros autores que sabemos como infelizes, como incompletos, como desencontrados da vida.
Crescemos, seguimos, andamos quando nos sentimos infelizes. O torpor da felicidade e do contentamento tolda-nos a criatividade, ameaça a nossa lucidez crua, inspira-nos sentires mais equilibrados ou simplesmente tira-nos o tempo que poderia ser dedicado à superação humana.
Mesmo assim considero que todos, todos trocariam de bom grado a genialidade angustiante pelos momentos felizes que já invejaram nos outros.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Longa vida ao livro
Sobre as páginas de um livro pode-se chorar, mas não sobre o monitor de um computador”. Palavras do Prémio Nobel da Literatura, José Saramago que defende o que os livros vão sobreviver à Internet. Saramago recorda ainda que na sua infância não havia radio, televisão, internet ou play-station e que por isso passou a inventar histórias.

domingo, novembro 21, 2004

Retratos

Ela é céptica mas ingenuamente romântica.

terça-feira, novembro 16, 2004

Livraria(s)

Apetecia-me abrir, montar, criar, gerir, ter uma livraria. Uma livraria imaginada ao pormenor, um refugio com muitos livros, um cantinho para ler em silêncio ou ao som de músicas criteriosamente escolhidas. Livros bem arrumados, apelativos, sedutores. Sofás fofos, convidativos, vermelhos, onde os meus compradores/clientes/convidados pudessem folhear calmamente um e outro e mais outro livro. Pudessem encontrar os jornais, algumas revistas, desenhos, aguarelas, óleos, azulejos e artesanato. Neste espaço seria criado o território dos mais pequeninos, com muita cor e luz, existiria também o sítio da música, serviria chá e bolos quando houvesse livros novos para conhecer. Nesta livraria as pessoas seriam simpáticas e apeteceria voltar sempre, muitas vezes. Apeteceria cheirar os livros, prende-los nas nossas estantes, sentir as histórias. Na livraria dos meus sonhos nasceriam pinturas nas paredes, estantes altas e vida.
Esta livraria existe em Aveiro. Não é minha. AINDA. fica mesmo ao lado do Teatro Aveirense merece uma visita, e mais outra, tantas….

sexta-feira, novembro 12, 2004

Mulheres

Li de uma só vez “Mulheres” de Charles Bukowski. O livro não tem encanto, não tem lirismo, não tem ilusão, é o retrato nu, cru, real do ser humano. É a história de um homem de 60 anos, escritor, que não vale nada, ou que pensa que não vale nada, que não quer mais da vida, do que beber um copo e aguentar o dia até ao fim, sempre, sempre com uma mulher, a mesma ou outra qualquer. É um livro duro, mas excitante, sem rodeios vai ao fundo do protagonista e mostra um Chinaski quase animal…

Ele, o outro e as mulheres
Henry Chinaski não pensa nada sobre as mulheres. Conhece-as, entra e sai delas, até aparecer a próxima. Publicado em 1978, “Mulheres” é a vida de um homem que, se tivesse nascido mulher, seria certamente prostituta

quinta-feira, novembro 11, 2004

Maioridade

Portugal teve que esperar 30 anos para se reunir e discutir a democracia. Portugal teve que esperar 30 anos para falar de Abril, do crescimento cívico, para debater e defender uma cidadania activa. Portugal esperou e achou que agora era a hora certa para reunir personalidades de todos os quadrantes politico-ideológicos para avaliar o percurso da democracia lusa. Trata-se de uma iniciativa da Associação 25 de Abril convocada para celebrar os 30 anos da "Revolução dos Cravos". Se calhar Portugal não sentiu a necessidade de discutir esta questão mais cedo. Se calhar Portugal não vivia uma democracia suficientemente madura e adulta para poder avançar com uma acção pública desta envergadura. Se calhar este vai ser mais um palco de discursos bem estruturados, aliciantes, sedutores, eficazmente criados tendo em vista o objectivo último de cativar a plateia. Se calhar esta vai ser mais uma oportunidade para mandar recados, para discutir teorias, para esgrimir retóricas, para alimentar a comunicação social, a discussão e contra-discussão pública, de todos e principalmente dos opinon makers, dos comentadores, das vozes ouvidas neste canto.
Trinta anos passaram e Portugal pós-25 de Abril é um adulto….Depois de amanhã…será tempo de passar à discussão seguinte enquanto Abril se vai cumprindo ano após ano… pior ou melhor.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Perceber as palavras

Há palavras muito ricas que escondem e revelam, se perdermos algum tempo a olhá-las e a analisá-las, grandes mistérios. Há depois palavras divertidas, enroladas, engraçadas, como pantagruel, como montanha-russa, justaposição, arco-iris, balão, algodão doce, papa-formigas, primaveril, colorido, leitão ou chocolate. Bem a palavra chocolate não é muito divertida, mas eu gosto tanto de chocolate…
E há ainda palavras que dizemos todos os dias e às quais nunca damos o devido valor, ou nem sequer tomamos consciência do seu significado. Uma delas é desenvolver. Encarei-a um dia destes. Fiquei a repeti-la. Des-envolver.
Assim à primeira vista é mesmo o contrário de envolvimento, sendo este um acto de olhar para dentro, de ficar estático debruçado sobre si, como se de um novelo se tratasse a vida vai desenrolando esse fio, desenvolvendo o indivíduo rumo ao futuro, rumo ao crescimento. Parece paradoxal mas envolver poderá ser, de facto, o contrário de crescer, de evoluir, envolvimento é parar, é aprofundar, é ficar enredado e preso. Para andar é preciso DES-ENVOLVER.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Esse sentir só pode ser laranja, amarelo, azul vivo, rosa choc (para quem gosta, ui)... Não sei. mas só pode ser uma cor assim: forte, quente, viva, positiva, optimista, vigorosa.
Cores Interiores

De que cor é a amizade, o carinho, o afecto, a afeição, o respeito e a preocupação?
De que cor é o sentimento que nos aproxima dos outros?
A paixão é vermelha. O coração é rubro, tal como o sangue que pulsa em nós, tal como os morangos e as cerejas doces e frescas. Vermelho é ainda o semáforo quando proíbe, tal como o sinal de STOP ou os meus contactos quando no msn estão off.
A inveja é verde tal como a raiva.
O ódio deve ser preto ou azul muito escuro.
E de que cor é este sentir? Esta emoção que nasce de cada vez que gosto de alguém?
De cada vez que me encontro com uma alma gémea? De cada vez que as coincidências e as afinidades confluem e me vejo a sorrir numa nova parceria confortável e próxima?

quinta-feira, novembro 04, 2004

O vento mudou
No escuro, o filme continua a contar a sua história. A chuva parou e, pela janela aberta entrou a luz forte e quente do sol… a tempestade tinha passado. Agora podia sair e correr livremente pelos campos.
Ter asas e voltar a voar. Ela fechou a porta e partiu.

É assim que me vou sentir amanhã, quando abrir a porta e sair.
É assim que vou estar quando o dia chegar.
É assim que quero ser quando o sol vier e eu estiver pronta.
É assim.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Oração

Quero.
Tomar a vida pelas rédeas, não deixar fugir o tempo, organizar-me a cada dia, fazer o que esperam de mim, ser só quem quero ser, gostar de tudo em que me meto, estar onde quero estar, amar e ser amada, dormir sempre sossegada, acordar cheia de força, comer quando me apetece, falar se tiver vontade, rir só porque sim, ficar calada quando preciso, chorar se assim for, saltar porque estou contente, gritar porque tenho vontade, ser miúda eternamente, ser crescida se quiser, ser feliz se o conquistar, estar feliz se o reclamar.
Para sempre! Ámen.

terça-feira, novembro 02, 2004

Ter ou não ter CHÁ

É no Inverno, à noite que o chá me sabe melhor. Bebo chá desde sempre, talvez por influência da minha mãe e da mami, que sempre preferiram o chá ao leite…
Hoje o chá ocupa um lugar de destaque entre os meus sabores preferidos, distingue-se no meio do café, do café com leite, do chocolate quente, do café com natas, do cappuccino… Uma paixão líquida que me conforta.
Mas o chá é ainda hoje um mistério…
Actualmente existem mais de 3000 tipos de chá em todo o mundo, cujas diferenças se relacionam com o clima e o processo de fabrico.As origens do chá perdem-se no tempo, misturando-se com velhas e mágicas histórias, como aquela que conta que a vida de Sheng Nong, um imperador que viveu na China há 5000 anos. Sheng Nong, um governante justo e capaz, homem de ciência e amante das artes vivia preocupado com as epidemias, por isso exigia que toda a água fosse fervida antes de ser consumida.Certo dia, num quente verão oriental, o imperador, de visita a uma das regiões distantes que governava, mandou parar a sua comitiva para que todos descansassem. Os servos começaram então a ferver água para que a comitiva pudesse beber, mas algumas folhas provenientes de arbustos próximos foram arrastadas pelo vento caindo no recipiente em ebulição. Pouco a pouco, a água foi adquirindo uma tonalidade castanha. O imperador, curioso, decidiu provar a estranha infusão e ficou surpreendido pelo sabor extremamente agradável, tornando-se desde esse momento um grande adepto do chá, no que seria seguido pelo seu povo.
A partir da China o chá espalhou-se pelo mundo, primeiro para o vizinho Japão, depois a caminho do Ocidente, através da Ásia Central e da Rússia. Mas foi com a chegada dos portugueses ao Oriente, em finais do século XV, inícios do século XVI, que o chá começou a difundir-se na Europa. As naus portuguesas traziam carregamentos de chá para o porto de Lisboa de onde grande parte era depois re-exportada para a Holanda e a França. As Ilhas Britânicas mantinham-se, em meados do século XVII, alheadas do chá, mas tudo mudou graças a uma Princesa portuguesa. Catarina de Bragança, filha de D. João IV de Portugal, casou com Carlos II de Inglaterra, em 1662, levando para a corte britânica o hábito de beber chá. Diz-se que terá levado no seu dote uma arca de chá da China. instituindo o seu uso na corte.
E eu, por ironia, fui a Inglaterra buscar uma boa parte dos chás que bebo por estes dias, agora que o Inverno começa…. Vai um chá verde com canela?!